12/03/2014

12-03-2014 :: Dia do bibliotecário requer mais que autoelogio

Eis um recorte de relatório de pesquisa que apresentei no final de 2013 e, nele, veja-se algo da prática profissional na BU-UFSC. O fato levantado, certamente, não coloca o bibliotecário que lá atua em boa posição diante da sociedade.



SOUZA, Francisco das Chagas de. (2013). Expressão de ética profissional bibliotecária nos portais dos sistemas de bibliotecas universitárias de IES sediadas nas regiões norte e nordeste do Brasil classificadas como as dez melhores no ranking universitário da folha (RUF) - 2012  por qualidade em pesquisa.  p. 34-37. Florianópolis, UFSC-CIN. (Relatório de Pesquisa).


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“Todas as IES que fazem parte da amostra aqui examinada são entes vinculados ao Ministério da Educação - MEC e em anos recentes caudatárias de recursos financeiros para implantar o Programa Reuni – de Reestruturação das Universidades. A configuração  dsse Programa em si já revela o  precário cenário que lhe deu origem, isto é, do crescimento sucessivo do ensino superior privado, que forçou o governo federal a investir em novas vagas públicas para, ao menos, não ver em progressiva redução percentual o atendimento público que, há muito tempo, está em menos de 20% da oferta nominal de vagas. Desse modo, o grosso do recurso, empregado de 2007 a 2013, ano de seu encerramento como fonte financeira adicional, foi canalizado para a construção e recuperação de prédios e infraestrura de mobilidade, um tanto para material de suporte ao ensino e laboratórios e a menor proporção para a recuperação de acervos, sua ampliação e adequação das coleções às demandas crescentes (Disponível em: http://reuni.mec.gov.br/. Acesso em: 07/12/2013).
            Um segundo aspecto, de relativo peso, também a ser considerado, é o entendimento que a tal comunidade universitária, de forma geral, tem em relação às finalidades e funções da biblioteca. Na etapa anterior da pesquisa, a única IES que evidenciou todo o sentimento de valor que a biblioteca tem, traduzindo-o em documentos oficiais que a regulamentam a partir de deliberações dos órgãos centrais da Instituição foi a USP. Nas demais IES, em sua quase totalidade, há alguma deliberação dos Conselhos Superiores ou de uma autoridade administrativa com vínculo às reitorias, quando se trata da aplicação de punições aos usuários ou meramente para legitimar o regulamento da biblioteca. Pela extensão com que se manifesta essa cultura de desinteresse pela biblioteca, poder-se-ia designar a maioria dessas chamadas comunidades universitárias, incluídos seus doutores pesquisadores, membros de grupos de pesquisa, etc., como analfabetos bibliotecários. Isto é, têm uma leve noção do que seja a biblioteca como um lugar onde se encontra a informação, ou melhor, livros, mas pouca ou nenhuma noção de como ela poderia operar de maneira mais funcional e com melhor rentabilidade e maximização de benefício que decorreria em contraprestação aos limitados investimentos financeiros realizados.
            Decorrente desse analfabetismo bibliotecário das comunidades universitárias, nas quais também se insere o bibliotecário, incidirá um reflexo devastador na composição qualitativa e quantitativa dos profissionais, assistentes e auxiliares atuantes na biblioteca.  Considerando a necessidade de perfis crescentemente multidisciplinares, essas equipes tendem a prosseguir como vítimas de um isolamento acadêmico, promovido pela ideia generalizada do papel das BUs como bibliotecas depósito.
            Exemplifica essa vitimização, também autoforjada, embora não generalizável, o documento, não debatido pela respectiva comunidade universitária e nem legitimado pelo Conselho Superior da Instituição, que trata da política de desenvolvimento de coleções do Sistema de Bibliotecas da UFSC (SIBI/UFSC), IES que ficou no nono lugar pela qualidade da pesquisa, de acordo com o RUF – 2012. Esse documento, do ano de 2012, é   apresentado como: 

[…] um instrumento para o planejamento e a tomada de decisões que oferece parâmetros eficazes para a formação e a manutenção do acervo, com base nas atividades de ensino, pesquisa e extensão da Universidade, de modo que o SiBi esteja dotado de ferramental e respaldo da comunidade acadêmica. 

            Na página 4 desse documento, disponível em http://www.bu.ufsc.br/design/PolDesColecoes_SIBIUFSC.pdf  e acessado em 07/12/2013, encontra-se a seguinte afirmação: 
A política de desenvolvimento de coleções do SiBi/UFSC tem como objetivo geral definir e implementar critérios para o desenvolvimento de suas coleções de objetos informacionais. Os objetivos específicos são:

a) estabelecer normas para seleção e aquisição de material informacional;
b) disciplinar o processo de seleção, tanto em quantidade como em qualidade,
de acordo com as características dos cursos oferecidos pela instituição;
c) atualizar permanentemente o acervo, permitindo o seu crescimento e o seu
equilíbrio nas áreas de atuação da instituição;
d) direcionar o uso racional dos recursos financeiros;
e) determinar critérios para duplicação de títulos;
f) estabelecer prioridades de aquisição;
g) estabelecer formas de intercâmbio de publicações;
h) traçar diretrizes para a avaliação das coleções;
i)    traçar diretrizes para o desbaste da coleção.

            Além de ser um documento que não representa uma deliberação do Conselho Superior da Instituição, sendo meramente uma declaração de intenções da Biblioteca, essa explicitação de objetivos padece de uma impropriedade, por ter sido plagiado de um documento de política de outra biblioteca. E é mais grave ainda, por terem sido transcritos os objetivos de um documento de política de coleções de uma biblioteca pública, constituindo, por isso, reflexo da vitimização autoforjada, ao revelar a má prática de uma  equipe profissional que não poderá, provavelmente, alegar desconhecimento da origem do documento que foi plagiado.  
            O documento originalmente plagiado pelos bibliotecários da UFSC pertence à Biblioteca Municipal Simões de Almeida (tio), do município português de Figueiró dos Vinhos, situado na região centro de Portugal (Disponível em: http://cm-figueirodosvinhos.pt/c/o-concelho-apresentacao.html. Acesso em: 07/12/2013).
            Originalmente denominado  Política de desenvolvimento de colecções da Biblioteca Municipal Simões de Almeida (Tio), pode ser lido há mais de quatro anos em http://pt.scribd.com/doc/3742203/Politica-coleccoes-BM-Simoes-de-Almeida (último acesso em 0712/2013). Foi elaborado em 2007 e, na página 1, expõe a finalidade e os objetivos principais da política ali adotada nos seguintes termos:  

Finalidade: definir critérios para o desenvolvimento e actualização do seu acervo.

Principais objectivos:

• Estabelecer normas para selecção e aquisição de documentos;
• Disciplinar o processo de selecção, tanto em quantidade como em qualidade;
• Actualizar permanentemente o acervo, permitindo o crescimento e o equilíbrio do mesmo;
• Direccionar o uso racional dos recursos financeiros;
• Determinar critérios para duplicação de títulos;
• Estabelecer prioridades de aquisição de documentos;
• Estabelecer formas para a permuta de publicações periódicas;
• Traçar directrizes para o expurgo de documentos;
• Traçar directrizes para a avaliação das colecções.


            É peculiar que o documento adotado pelo SIBI/UFSC em 2012, como sua política de desenvolvimento de coleções, não somente contenha plágio de documento com propósito similar, formalizado por uma biblioteca pública, mas que mantenha a mesma redação quanto aos objetivos, e que, além disso, conte com o mesmo número de tópicos.

            Se a assim denominada comunidade universitária tende a dar pouca importância a sua biblioteca universitária, evidentemente também se assujeita a tacitamente confirmar esse tipo de má conduta profissional por parte de suas equipes bibliotecárias. Isso denota um processo que parece se justificar, quando se encontra relatos de como a comunidade universitária ou as autoridades universitárias tendem a se comportar e é evidente que tudo isso, de forma menos ou mais questionável, estará evidenciado nos discursos contidos nos portais dessas bibliotecas ou sistemas bibliotecários”.   [...]