SOUZA, Francisco das Chagas de. (2013). Expressão de ética
profissional bibliotecária nos portais dos sistemas de bibliotecas
universitárias de IES sediadas nas regiões norte e nordeste do Brasil
classificadas como as dez melhores no ranking universitário da folha (RUF) -
2012 por qualidade em pesquisa. p. 34-37. Florianópolis, UFSC-CIN. (Relatório
de Pesquisa).
[...]
“Todas as IES que fazem parte da amostra
aqui examinada são entes vinculados ao Ministério da Educação - MEC e em anos
recentes caudatárias de recursos financeiros para implantar o Programa Reuni –
de Reestruturação das Universidades. A configuração dsse Programa em si já revela o precário cenário que lhe deu origem, isto é,
do crescimento sucessivo do ensino superior privado, que forçou o governo
federal a investir em novas vagas públicas para, ao menos, não ver em
progressiva redução percentual o atendimento público que, há muito tempo, está
em menos de 20% da oferta nominal de vagas. Desse modo, o grosso do recurso,
empregado de 2007 a
2013, ano de seu encerramento como fonte financeira adicional, foi canalizado
para a construção e recuperação de prédios e infraestrura de mobilidade, um
tanto para material de suporte ao ensino e laboratórios e a menor proporção
para a recuperação de acervos, sua ampliação e adequação das coleções às
demandas crescentes (Disponível em: http://reuni.mec.gov.br/. Acesso em: 07/12/2013).
Um
segundo aspecto, de relativo peso, também a ser considerado, é o entendimento
que a tal comunidade universitária, de forma geral, tem em relação às
finalidades e funções da biblioteca. Na etapa anterior da pesquisa, a única IES
que evidenciou todo o sentimento de valor que a biblioteca tem, traduzindo-o em
documentos oficiais que a regulamentam a partir de deliberações dos órgãos
centrais da Instituição foi a USP. Nas demais IES, em sua quase totalidade, há
alguma deliberação dos Conselhos Superiores ou de uma autoridade administrativa
com vínculo às reitorias, quando se trata da aplicação de punições aos usuários
ou meramente para legitimar o regulamento da biblioteca. Pela extensão com que
se manifesta essa cultura de desinteresse pela biblioteca, poder-se-ia designar
a maioria dessas chamadas comunidades universitárias, incluídos seus doutores
pesquisadores, membros de grupos de pesquisa, etc., como analfabetos
bibliotecários. Isto é, têm uma leve noção do que seja a biblioteca como um
lugar onde se encontra a informação, ou melhor, livros, mas pouca ou nenhuma
noção de como ela poderia operar de maneira mais funcional e com melhor
rentabilidade e maximização de benefício que decorreria em contraprestação aos
limitados investimentos financeiros realizados.
Decorrente
desse analfabetismo bibliotecário das comunidades universitárias, nas quais
também se insere o bibliotecário, incidirá um reflexo devastador na composição
qualitativa e quantitativa dos profissionais, assistentes e auxiliares atuantes
na biblioteca. Considerando a
necessidade de perfis crescentemente multidisciplinares, essas equipes tendem a
prosseguir como vítimas de um isolamento acadêmico, promovido pela ideia
generalizada do papel das BUs como bibliotecas depósito.
Exemplifica
essa vitimização, também autoforjada, embora não generalizável, o documento,
não debatido pela respectiva comunidade universitária e nem legitimado pelo
Conselho Superior da Instituição, que trata da política de desenvolvimento de
coleções do Sistema de Bibliotecas da UFSC (SIBI/UFSC), IES que ficou no nono
lugar pela qualidade da pesquisa, de acordo com o RUF – 2012. Esse documento,
do ano de 2012, é apresentado
como:
[…] um
instrumento para o planejamento e a tomada de decisões que oferece parâmetros
eficazes para a formação e a manutenção do acervo, com base nas atividades de
ensino, pesquisa e extensão da Universidade, de modo que o SiBi esteja dotado
de ferramental e respaldo da comunidade acadêmica.
Na
página 4 desse documento, disponível em http://www.bu.ufsc.br/design/PolDesColecoes_SIBIUFSC.pdf e
acessado em 07/12/2013, encontra-se a seguinte afirmação:
A política de
desenvolvimento de coleções do SiBi/UFSC tem como objetivo geral definir e
implementar critérios para o desenvolvimento de suas coleções de objetos
informacionais. Os objetivos específicos são:
a) estabelecer
normas para seleção e aquisição de material informacional;
b) disciplinar
o processo de seleção, tanto em quantidade como em qualidade,
de
acordo com as características dos cursos oferecidos pela instituição;
c) atualizar
permanentemente o acervo, permitindo o seu crescimento e o seu
equilíbrio
nas áreas de atuação da instituição;
d) direcionar
o uso racional dos recursos financeiros;
e) determinar
critérios para duplicação de títulos;
f) estabelecer
prioridades de aquisição;
g) estabelecer
formas de intercâmbio de publicações;
h) traçar
diretrizes para a avaliação das coleções;
i)
traçar
diretrizes para o desbaste da coleção.
Além
de ser um documento que não representa uma deliberação do Conselho Superior da
Instituição, sendo meramente uma declaração de intenções da Biblioteca, essa
explicitação de objetivos padece de uma impropriedade, por ter sido plagiado de
um documento de política de outra biblioteca. E é mais grave ainda, por terem
sido transcritos os objetivos de um documento de política de coleções de uma
biblioteca pública, constituindo, por isso, reflexo da vitimização autoforjada,
ao revelar a má prática de uma equipe
profissional que não poderá, provavelmente, alegar desconhecimento da origem do
documento que foi plagiado.
O
documento originalmente plagiado pelos bibliotecários da UFSC pertence à
Biblioteca Municipal Simões de Almeida (tio), do município português de
Figueiró dos Vinhos, situado na região centro de Portugal (Disponível em: http://cm-figueirodosvinhos.pt/c/o-concelho-apresentacao.html. Acesso em: 07/12/2013).
Originalmente
denominado Política de desenvolvimento de
colecções da Biblioteca Municipal Simões de Almeida (Tio), pode ser lido há
mais de quatro anos em http://pt.scribd.com/doc/3742203/Politica-coleccoes-BM-Simoes-de-Almeida (último acesso em 0712/2013). Foi
elaborado em 2007 e, na página 1, expõe a finalidade e os objetivos principais
da política ali adotada nos seguintes termos:
Finalidade: definir critérios para o
desenvolvimento e actualização do seu acervo.
Principais objectivos:
• Estabelecer normas para selecção e
aquisição de documentos;
• Disciplinar o processo de selecção,
tanto em quantidade como em qualidade;
• Actualizar permanentemente o acervo,
permitindo o crescimento e o equilíbrio do mesmo;
• Direccionar o uso racional dos recursos
financeiros;
• Determinar critérios para duplicação de
títulos;
• Estabelecer prioridades de aquisição de
documentos;
• Estabelecer formas para a permuta de
publicações periódicas;
• Traçar directrizes para o expurgo de documentos;
• Traçar directrizes para a avaliação das
colecções.
É
peculiar que o documento adotado pelo SIBI/UFSC em 2012, como sua política de
desenvolvimento de coleções, não somente contenha plágio de documento com
propósito similar, formalizado por uma biblioteca pública, mas que mantenha a
mesma redação quanto aos objetivos, e que, além disso, conte com o mesmo número
de tópicos.
Se
a assim denominada comunidade universitária tende a dar pouca importância a sua
biblioteca universitária, evidentemente também se assujeita a tacitamente
confirmar esse tipo de má conduta profissional por parte de suas equipes
bibliotecárias. Isso denota um processo que parece se justificar, quando se
encontra relatos de como a comunidade universitária ou as autoridades
universitárias tendem a se comportar e é evidente que tudo isso, de forma menos
ou mais questionável, estará evidenciado nos discursos contidos nos portais
dessas bibliotecas ou sistemas bibliotecários”. [...]
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